segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Ademário Ribeiro, poeta e historiador!

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Prefácio

As histórias oral e escrita de Simões Filho não diferem entre si – delas, se conhecem detalhes e vieses. Quando muito, encontramos poucas fontes e minutas referências. Muito do que teve e tem este Município, podia e pode ser propulsor de crescimento e desenvolvimento – porém, enquanto, perdurar a mentalidade fragmentadora, mais o alheamento, - estes descaminhos vão dar numa encruzilhada, - comprometendo o tecido sociocultural, o humano e a sua cultura e nesta perplexidade as gerações que já nos avizinham.

Município bem servido pela natureza: colinas, tabuleiros, rios e matas que se juntam aos manguezais da Baía de Aratu, espécies de restinga e remanescentes de Mata Atlântica denotam um cenário de integração bafejado pelos ventos marinhos. A nossa terra foi habitada por etnias da grande massa dos Tapuia nos primórdios de Pindorama e bem antes da colonização, pelas etnias de linhagem dos Tupi com a predominância dos Tupinambá, que tiveram participação nas lutas pela consolidação da Independência da Bahia em 2 de julho de 1823, ao lado dos africanos e brasileiros, que almejavam um Brasil livre da tirania.

Do Forte do Barbalho saíam as grandes boiadas pela Estrada Geral do Sertão, antes passando sobre a Ponte das Boiadas, situada na estratégica falha geológica, ali nas imediações do viaduto da BR-324 e da ponte ao lado, atravessando e alcançando outros estados. Resgatar esses rasgões no tecido histórico é respeitar esse passado e a identidade, oferecendo ao presente uma contribuição cidadã, promovendo um futuro promissor.

Não só dos habitantes seculares, mas resgatar as manifestações populares e artísticas daquele período até os nossos dias, aqui introduzidas com a chegada dos imigrantes portugueses e africanos e os migrantes de vários pontos do país, principalmente do Nordeste, Sertão e Recôncavo baiano.

Bumba-meu-boi, ternos de reis, lindro de amor, maracatu, rezas, simpatias, artesanato e violas e tambores que “vestiam” de sons e percussões as danças, inclusive a Dança de São Gonçalo, e seu conjunto de saber herdado por Seu Mathias, (de saudosa memória) dos quilombolas da Fazenda Mocambo, seus ancestrais do Recôncavo, em Pitanga dos Palmares.

Os folguedos, rezas e cultos que se comunicavam pelo Oiteiro, Dambe, Cotegipe, Muriqueira (atual Góes Calmon), Matoim, com fiéis e cortejos de populares do Recôncavo e da Região Metropolitana de Salvador. Os migrantes perderam as fazendas e engenhos e se foram para a capital ou para o sul do país. Foi um fluxo e um refluxo - vinda e ida, - retirada e debandada. A cidade e a cidadania estoteiam! Cadê as grandes boiadas com sua estrada e sua ponte? Cadê o Ipê-do-brejo que tinha aqui? Cadê os povos que cultuavam ao redor daquelas gameleiras (Iroko-Ioko-Tempo) na estrada dos Eucaliptos e que é “morada” de um Orixá ou Encantado, marcando, assinalando um tempo místico e mítico? Cadê o Rio Joanes, agonizando com o seu assoreamento, mas ainda “servindo” várias cidades? Cadê as palmeiras imperiais e remanescentes da Mata Atlântica na Unidade Ecológica de Cotegipe?... Ciranda, cirandinha, vamos todos resgatar?!

Mapear esses mananciais, riquezas folclóricas e artísticas. Desenvolver projetos de arte, cultura e educação a partir da história e da geografia de Simões Filho que já foi Água Comprida e que bem antes era Cotegipe: Caminho das Cotias. Fazer uma “ponte” entre as ruínas da Paróquia São Miguel de Cotegipe e do cais à sua frente, Igreja construída em 1608 pelo quarto bispo do Brasil – D. Constantino Barradas. Os manguezais, os tantos rios, lagoas, lagos e cachoeiras. Associar esta valorização a programas de educação ambiental que contemplem estas questões, perseverando e educando a sociedade para uma ação proativa e de consciência eco-histórico-cultural. A cidade é de todos. Desde o período das tribos primevas até às tribos que ainda estão chegando. Mesmo com sua geografia acentuada e descarrilada a sua história, é preciso sonhar, desconstruir e reconstruir o Município sem a sanha das aves de arribação: xô! Xô desalmado carcará! Como diz Gilberto Gil: “Trocar o Logus da posteridade pelo ‘logo’ da prosperidade [...]”.

A municipalidade é a pulsação da sociedade. A contemporaneidade exige o resgate dessa herança, a construirmos sua face identitária com sua pluralidade e diversidade, pois, como esfinges, - as Gameleiras e as Três Pontes, - nos inquirem, tomada de rumo e garantia de afirmação!

Desta comprida história, existe um obstinado homem, Sr. Antonio Apolinário da Hora, seu Tuninho, que entre o atendimento a um freguês e outro, vivia anotando, escrevinhando, rascunhando estas tantas pernas e rasgões no seu Bazar Estrela. Ele que Hermínio Bonifácio, Walter Tolentino Alvares, Noêmia Meirelles e Altamirando Ramos, oferece-nos, neste momento, o seu livro HISTÓRIAS COMPRIDA – lume acesso de sua ‘lamparina’ sempre azeitada de memórias, seriedade e muito esforço! Sua agenda de serviços prestados a esta municipalidade é quem mede a sua contribuição. Seu Tuninho estava sempre resolvido a trazer pra o presente estas páginas e para este livro, - ele fez diversas recorrências: são histórias e mais histórias relatadas com apaixonamentos pela terrinha e sua gente – que fazem-me citar alguns versos da poesia Infância de Carlos Drummond de Andrade: “[...] comprida história que não acaba mais [...] e eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé!”

Só um líder genuíno não dá meia-volta às dificuldades ou senta-se na pedra esperando a banda passar! Tranqueiras de pau obstruem a sua estrada, mas, a mente não tem fronteiras, e , ele, obstinado, gritou vivas aos Tupinambá, ao Ipê do Brejo, aos Engenhos, aos Ternos de Reis,
à Dança de São Gonçalo, à Pedra do Caboclo, ao Milagre de Santa Luzia, ao Dambe e ao Tanque do Coronel! Ele não é nuvem branca, nunca foi Ave de Arribação, (é sim), o que nos escreveu o poeta, Mário Quintana em seu Poeminha do Contra:

Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!

Esse homem, este líder, merece mais que cortesia (embora carecemos demais da civilidade!), mas de respeito pela sua batalha nesta Terra e pela sua Gente, pela generosidade em memória trazida no seu HISTÓRIA COMPRIDA, - que os sinos dobrem por suas páginas de Resgate e Paixão: Vivamos a Simões Filho que queremos!
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Ao transcrever neste espaço o prefácio escrito por Ademário Ribeiro, no livro História Comprida, o faço com misto de dever e satisfação, pois no meu entendimento o prefaciante ainda não teve por parte das nossas autoridades municipais o reconhecimento que o mesmo merece.

Quero acreditar que todos aqueles que leram como eu li o livro História Comprida, de autoria do Senhor Antonio Apolinário da Hora, ficaram altamente gratificados pelo mergulho nas entranhas históricas do nosso município.

Por outro lado, na minha visão dos fatos, tivemos uma certa dose de frustração por não termos assistido nenhuma comemoração cívica no 7 de novembro deste 2011, ano do cinqüentenário da cidade.

Até a próxima!

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